Vitória, uma jovem de 16 anos, homofobia, filha de uma mãe solteira rígida e religiosa, recebe a notícia de que sua mãe está morrendo de câncer no ovário. No leito de um hospital, sem escapatória, sua mãe finalmente revela que ela tem um pai e que ele está vivo e que ela deve entrar em contato com ele para que o mesmo assuma a custódia da garota caso ela venha a faltar. A garota parte em busca do pai, mas acaba encontrando a si mesma no caminho. Acaso não tenha conta no Wattpad o conto está disponível completo logo abaixo, basta ler o post completo :) Espero que gostem!






      O PREÇO POR SER DIFERENTE
Rebobinar a fita de sua própria vida é parte essencial do processo de querer entender uma situação na intenção de aceitá-la da forma que ela é, e não da maneira que gostaria que fosse. Meu olhar percorre a paisagem que passa rapidamente através da janela do ônibus, sem que minha mente possa de fato focar em algo. Havia deixado toda minha concentração para trás, em um determinado período do tempo. As palavras de minha mãe, Maria de Jesus, quem sempre teve a última palavra sobre minhas escolhas, soavam em meus ouvidos ainda mais gritantes do que os sussurros proferidos por seus lábios enfraquecido e secos. Apesar da fraqueza, ela conseguiu fazer com que eu, Vitória, uma garota de 16 anos e de saúde plenamente no auge, me sentisse tão indefesa e frágil como se a moribunda sobre o leito hospitalar fosse eu e não minha mãe. Cinco horas. É a distância que me separou de meu pai biológico por 16 anos. E, agora, após tanto tempo, essa longitude se dissolvia ligeiramente nas rodas que percorrem as movimentas avenidas da grande São Paulo.
Durante o relato de minha mãe, sobre algo que permaneceu em segredo a minha vida toda, parte do meu subconsciente flutuou, tudo a minha volta se apagou transformando-se em uma tela preta onde imagens coloridas e nítidas começaram a serem transmitidas. Todas se tratavam de acontecimentos passados, tanto da minha infância como da minha juventude atual, onde a ausência de meu pai era a grande causadora de tamanhos desconfortos e constrangimentos, mas, eu não o culpava até então. Até onde eu sabia eu tinha um pai falecido que não soube em vida que eu estava a caminho. Mas, a verdade alterava tudo. Imaginar desfechos diferentes para as recordações que se tornaram minhas companhias diárias era algo impossível de se lutar contra. As lembranças de sua ausência, e do que elas provocam em mim, são fantasmas que sopram em meus ouvidos lembrando-me constantemente do fracasso de garota que eu me tornei por sua culpa.
Duas semanas atrás, meus olhos mantiveram o foco em algo que jamais pensei que um dia colocaria as vistas em cima; por mais que eu insistisse que tudo não passava de um engano e que a tal Maria que cintilava no alto das folhas, indicando a quem pertencia aqueles documentos, fosse outra e não minha mãe. Ainda assim, permaneci com os papéis em mãos, encontrados debaixo de seu colchão acidentalmente quando trocava os lençóis de sua cama. Mas, meus instintos jamais mentiam para mim. Esperei que desse a hora de sua chegada para confrontá-la, porém, não houve sinal dela. Todas as tardes, por volta das treze horas, minha mãe saía para ir à uma reunião apenas de mulheres em sua igreja, organizava, juntamente com a esposa do pastor e outras devotas, os trâmites necessários para que os cultos noturnos saíssem um sucesso. Tanto em quantidade de pessoas quanto para o conforto do pastor e seus fiéis durante a pregação.
Ainda me custava acreditar. Se minha mãe estivesse morrendo de fato, o que a fez esconder a verdade de mim? Seria eu uma filha tão relapsa ao ponto de não perceber que algo não ia bem com sua saúde? Esperei durante todo o dia por sua chegada antes de receber a notícia que marcou o início de algo desconhecido para mim. Quando a impaciência começou a dar lugar a preocupação o telefone de casa toca freneticamente antes que eu consiga chegar até ele.
— Alô?
Ouço uma respiração do outro lado da linha acompanhada de vozes ao fundo, sem que eu consiga identificar as palavras, apenas sons produzidos por pessoas em um ritmo frenético.
— Sinto muito, querida. — Reconheci a voz sendo da esposa do pastor de nossa congregação. — Você precisa vir até o hospital, o público, sua mãe não passa bem.
Bastou que a verdade se revelasse acidentalmente para mim para que acontecimentos referentes a ele se desencadeassem na velocidade de um trem descarrilhado, provocando um pânico ao qual eu jamais havia sentido. Tudo era tão pacato na minha vida, minha rotina se resumia àquilo que minha mãe me ensinara ser certo baseado na vontade do Senhor. E, de repente, me vi sozinha, perdida e sem saber que atitude tomar. Desliguei o telefone sem ao menos saber o que a pastora dissera em seguida, e me pus a correr andar acima em busca da minha bolsa. Queria eu ter saído de casa preparada para a montanha russa de emoções as quais seria submetida sem intervalos de tempo.
Eu ainda segurava sua mão da minha mãe enquanto o Doutor explicava os procedimentos médicos que ela precisava urgentemente ser submetida. Câncer no ovário, Estágio III, dissera ele. Minha mãe, embora estivesse adormecida pelos medicamentos fortes injetados por intravenoso, me alertava de ser cuidadosa ao abordar minhas dúvidas.
— O senhor tem certeza de que se trata de um câncer? Não pode ser estresse ou falta de alimentação? Ela não tem comido muito ultimamente, pode ser que seu desmaio tenha sido causado por isso. Ou cansaço pela rotina atarefada... ou... ou... — Continuei a especular causas que pudesse explicar aquela confusão, ainda que a imagem do que havia lido, anteriormente, nos laudos laboratoriais escondidos debaixo de sua cama já me dissesse toda verdade.
— Eu não tenho dúvidas, senhorita. Isso a que se refere são apenas efeitos colaterais da doença. — Tenta ele me explicar que a realidade era aquilo que acontecia no presente e não o que eu desejava. — Por mais que seja o contrário do que as pessoas pensam, o câncer de ovário é raro. O oposto do câncer de mama e do câncer de colo de útero que têm protocolos consolidados de rastreamento da doença com a mamografia e o Papanicolau, respectivamente, no caso do de ovário, nenhum método testado se mostrou eficaz. Eu não saberia lhe explicar muito bem. Apenas o Oncologista responsável pelo caso dela saberia dizer especificamente o que se pode ser feito, mas, não acho que seja muita coisa. Sinto muito.
Sente muito? Eu quis questionar. O que essa demonstração de solidariedade significava?
— Se o senhor não sabe, como pode ter certeza? Eu não sabia que minha mãe se consultava com um Oncologista! — A cada segundo mais eu me sentia frustrada e amedrontada.
— Apesar deste ser um hospital público, temos uma tecnologia vasta a nossa disposição. Além dos testes de sangue. Em todos realizados em sua mãe foram detectadas células cancerígenas através de uma proteína chamada CA-125 que denuncia sua taxa elevada apenas em casos de câncer.
Diante de meu silêncio a expressão do médico suavizou-se, em passos curtos e lentos ele se aproxima pousando a mão em meu ombro num gesto de amparo emocional.
— Me responda, querida. Há alguém que você queira que eu notifique? Seu pai, quem sabe. Eu nem devia estar tendo essa conversa com você. É menor de idade e precisa que alguém se responsabilize por sua mãe e seus cuidados. Embora acredite que seja uma menina forte, não pode ter sobre seus ombros essa responsabilidade.
Independentemente de me sentir ofendida por estar sendo tratada como uma criança indefesa, eu compreendi seu ponto de vista lógico.
— Somos só nós duas. — Limitei-me a responder.
Virei o rosto para minha mãe; éramos apenas nós duas no mundo, uma cuidava da outra. Então, por que não confiou aquele segredo a mim? O doutor assentiu e saiu dizendo que me deixaria a sós alguns minutos com minha mãe enquanto verificava o paradeiro do tal Oncologista.
— Seu pai... seu... pai.
Sinto um aperto singelo na mão que segurava a de minha mãe, e, apesar de continuar de olhos fechados seus lábios se moviam sempre repetindo o que jamais ouvi sair de sua boca desde que me explicara, aos sete anos de idade, que eu era órfã de pai.
— O que tem o pai, mamãe?
— Ele pode cuidar de você...
Então, seus olhos se abriram, assim como os meus, metaforicamente. Percebi que vivi no escuro minha vida toda e somente agora, sem escapatórias para mentiras, minha mãe desfazia os nós da venda que me cegava para a verdade. Meu pai estava vivo, sempre esteve. E possivelmente não sabia de minha existência.
Era algo para se pensar e, ao mesmo tempo, eu não queria, sentia que se me aprofundasse na análise das atitudes que tomaram minha mãe tudo o que eu cresci acreditando e aceitando cairiam por terra; eu ainda não estava pronta — e talvez jamais estivesse — para cruzar essa ponte sem saber o que estaria me esperando do outro lado. Apesar da minha insistência, mamãe se negou a confessar a verdadeira razão do distanciamento de meu pai, e o porquê de ele não saber que tinha uma filha, sendo que ela já estava grávida no período de sua partida. Afirmou apenas que tinham pensamentos diferentes, assim como suas convicções, mas não era o bastante para justificar o que não tive na vida. Por sua saúde frágil, eu não insisti. Eu não sabia o que seria pior: Desejar ardentemente que um pai que estava morto estivesse com você ou ter um, mas não o conhecer. Tudo o que ela me disse a seu respeito era mentira.
Mentiras não matam, eu havia descoberto naquele instante em que pensava no que seria daqui para frente enquanto ouvi ela contar o que eu precisava saber, apenas tortura quem acreditou nela.
Agora, na estrada em busca do que sempre me faltou, enquanto refletia nas razões que a levou a ocultar a existência de um pai, um som esquisito começou a soar próximo de mim. Eram vários estalos molhados, como se algo úmido se chocasse sobre outra superfície molhada. O barulho me distraiu por alguns minutos da combustão de sentimentos que ameaçava explodir a qualquer momento dentro de mim, entretanto, assim que localizei a origem desejei não ter feito. Meu estômago se revira querendo pôr para fora meu café — de quase nada — da manhã. Acima do ódio oculto que sentia por minha mãe e suas escolhas algo maior, e que eu abominava, acontecia na minha frente, eu tinha vista privilegiada da fresta entre uma poltrona e outra. Dois homens. Homens! Inclinados um sobre o outro se beijavam loucamente, semelhante a uma cena de cinema onde o mocinho e a mocinha se despedem para enfrentar um destino triste e solitário sem o outro. O problema era distinguir quem era ele e quem desejava ser "Ela"
A ânsia de vômito se intensifica na mesma velocidade em que as línguas dos dois homens à minha frente se movem em sincronia, instalando, sem se importarem com quem estava à volta.
— Moça, está se sentindo bem?
Olho para o lado em busca do dono da voz. Um rapaz, muito bonito e de olhos expressivos, sentado no conjunto de poltronas do outro lado do minúsculo corredor, me encarava preocupado enquanto retirava ambos os fones de ouvido prestando atenção apenas em mim enquanto aguardava a resposta. À frente, mais uma vez de maneira intensa, os beijos começam a soar. Fecho os olhos para abri-los outra vez em direção aos dois homens, ou projetos malsucedidos de um.
— Ah, acho que já entendi. — Disse o rapaz bonito, balançando a cabeça como se tudo na sua vida fizesse sentido agora.
— O que foi? — Questiono sem entender a que exatamente se refere.
— Seu olhar e a direção que ele segue já me diz tudo. Me é muito familiar. — Responde, apontando com o queixo em direção aos gays sem realmente querer dizer para que ninguém, além de mim, entendesse. Ele rapidamente se levanta e se apossa da poltrona vazia ao meu lado.
— Me chamo Henrique. — Estende a mão esperando que eu o cumprimente de volta, me lançando um sorriso gentil. Hesito antes de estender a mão e encaixar na sua.
— Vitória.
— Nome bonito. — Ele sorri, e eu apenas ruborizo antes de voltar minha atenção ao que realmente me incomoda. — Você deve parar, Vitória. Não devia encará-los assim. É preconceituoso da sua parte.
— Não devo nada a ninguém, talvez se perceberem o quanto isso incomoda as pessoas parem de fazer. Henrique balança a cabeça negando, como se eu acabasse de dizer algo absurdo.
— Eles também não devem nada a ninguém. O gesto de carinho em público só incomoda você.
— A você não?
— Nem um pouco. Estou muito acostumado, e saiba que acho bonito eles não temerem a opinião alheia e se expressarem como bem entendem.
— Você é ...? — Não tive coragem de completar a perguntar, assim como não tive vergonha de questionar. Não era o que diziam sobre algo ou alguém? Somente um para reconhecer o outro? Mas seu sorriso singelo me dizia que ele havia entendido.
— Não, gatinha. Eu não sou.
Por razões desconhecidas eu não me incomodei como o apelido, acompanhado da resposta que eu desejava soou caloroso. E, Deus sabe o quanto eu precisava de um gesto de afeto que seja. Mesmo de um estranho.
— Mas, se eu fosse, saiba que não teria vergonha de mim, nem de me expressar da maneira que desejasse.
— Então, como aceita tão bem uma barbaridade dessas? — Questiono, indignada com sua condescendência. — São dois gêneros semelhantes, a natureza não foi programada para isso.
— A natureza faz o que bem entende e ninguém questiona, ao contrário, criam matérias, pesquisas por cima de profissões para estudar e encaixar o que é diferente na nossa maneira de viver por puro encantamento.
— Se você não é... — Hesito.
— Gay? Homossexual? Virado para o outro lado? — Seu riso denuncia que, embora esteja tentado a me repreender, se diverte com minha falta de tato com o assunto.
— Isso. — Ignoro seu sarcasmo — O que o fez aceitar tão bem as... diferenças dos outros, mesmo sabendo que não é certo?
— Ser diferente não é ser errado, Vitória. São elas que fazem de nós quem realmente somos. Você é totalmente diferente de mim, não me refiro a aparência, você é linda, mas na maneira de pensar sobre as coisas, e acredito que na forma de agir também. Infelizmente, o preço por ser diferente é muito alto, e quem aceita pagá-lo é recriminado e afastado quando deveria ser admirado pela coragem.
Ele havia me afetado, não por dizer que sou bonita, mas por fazer me sentir pequena diante de tamanha sensibilidade. Entretanto, a mente questiona o que é novo e reluta contra o que acha não ser o certo. O que poderia ser considerado certo quando se refere aos desejos humanos? Em dúvida comigo mesma, deixo que continue falando.
— Aprendi vivenciando a experiência de perto que para o amor não existe certo ou errado.
— Como assim? — Duvido. Mesmo que ele tivesse afirmado que era heterossexual, teria ao menos ficado com curiosidade e experimentado como seria não ser?
— A duas pessoas que mais amo no mundo são homossexuais. E acredite, cuidaram de mim muito melhor do que as pessoas que você diria serem "Normais".
— E o seus pais não cuidaram de você?
— Eles cuidam, agora. — Contesta. Seu olhar, por poucos segundos se prendem no casal a nossa frente que se limitaram a falar baixo enquanto se acariciavam, agora discretamente. Não havia recriminação nele — Eu vivi em lares adotivos minha vida toda, e em casas de casais aleatórios. Nunca me adaptei, ou nunca se adaptaram a mim, não me lembro de ser bem tratado por ambos. Até que desisti de querer ter uma família. Mas, Deus colocou no meu caminho pessoas maravilhosas que souberam e sabem cuidar de mim, que me amam incondicionalmente e me protegem de tudo. Fui mais amado pelas pessoas que você acredita serem aberrações da natureza do que por casais tradicionais que apenas desejavam saciar um desejo egoísta, e não realmente cuidar de alguém.
— Não acredito que Deus permita tal coisa. Eu aprendi com minha mãe a ser de Deus e sei o que ele gostaria, e não seria Isso. — Aponto para o "Casal".
— Tome cuidado com quem você finge ser, gatinha, seria péssimo se você esquecesse de quem você realmente é. E, acredite, sinto que eu gostarei de conhecer quem você é de verdade sem o peso da consciência desnecessária que tenho a impressão que sua mãe colocou em suas costas.
— Você não sabe nada sobre a minha mãe. — Me irrito com o que quer que estivesse sugerindo sobre minha mãe.
— Assim como você não sabe nada das pessoas que amo e da maneira como são ou escolheram ser, mas insiste em julgá-las.
Sinto a foto do meu pai, presente da minha mãe, pesar no bolso do meu moletom, mais que a responsabilidade quando me contou sobre seu paradeiro, e insistiu para que eu o encontrasse ficando ela aos cuidados de nosso pastor até meu retorno para que eu tivesse em quem me amparar legalmente. Eu julguei meu pai desde que soube que estava vivo, mesmo sem saber seus motivos para partir, mesmo sabendo da chance de não saber sobre mim.
— Não sei ser diferente, fui criada assim.
Sinto sua mão tocar a minha num gesto de conforto.
— Não, não foi. Você que decide quem quer ser e o que quer fazer. Você apenas recebeu referências externas, mas cabe a você decidir o que fazer com elas. No que quer acreditar.
— Eu acredito em Deus.
Ele sorri e seus olhos brilham enquanto eu me vejo hipnotizada na doçura que vejo neles.
— Eu também, gatinha. Mas, o Deus que eu acredito não julga seus filhos por suas escolhas, se estão erradas ou não só quem as toma pode dizer.
— Como pode pensar assim sendo tão novo? Deve ter a mesma idade que eu e jamais vi nenhum garoto com tais convicções sobre a vida e as pessoas.
— Tenho 17. Fazer o quê. Eu sou uma alma velha presa nesse corpo semidesenvolvido. — Ele brinca.
— É por isso que está viajando sozinho?
— Estava na casa de um amigo em busca de uma pessoa, alguém que meu pai procura há alguns anos. Mas, estou morrendo de saudades de casa e adiantei meu retorno. E você? Está de passeio?
Os poucos minutos de conversa haviam servido de distração para o que me incomodava, todavia não durou o suficiente.
— Descobri que tenho um pai. Minha vida toda pensei que estivesse morto, mas só agora que minha mãe adoeceu e preciso de amparo legal é que me foi revelado sua existência.
Henrique pousa sua mão sobre meu ombro, sem nada a dizer. Porém, o gesto significou mais do que se tivesse dito algo. O ônibus para, e finalmente chegamos no destino final. Não quero ter medo, nem mesmo sei o que direi quando o encontrar ou como explicarei a situação.
— Se quiser, posso acompanhá-la. Sei que não me conhece, mas saiba que conquistou um amigo.
Sorri agradecida. Um amigo, mesmo que não íntimo, e que demonstrou confiança em tão pouco tempo era melhor do que eu tinha até então: Nada. Descemos juntos do ônibus. Não sei o que farei a partir daqui, embora saiba o que era preciso ser feito.
— Aquele é o meu pai. — Diz ele apontando para dois homens que permaneciam parados, trocando caricias deixando claramente a vista suas orientações sexuais para quem quer que fosse. Então pude entender sua opinião sobre o assunto tão consolidada.
— Qual deles? — Pergunto ignorando a vontade anterior, antes de tudo o que refleti, de rejeitar o que meus olhos viam e julgá-los sem antes conhecer.
— Os dois. – Ele responde sorrindo.
Sigo seu olhar direcionado aos dois homens enquanto nos aproximávamos. Ambos olhavam para Henrique, alegres, ansiosos por sua aproximação. Era visível que amavam incondicionalmente ao filho, e que cuidaram bem dele assim como Henrique afirmara anteriormente. Perco o ar no segundo em que paro diante deles, logo após receberem o garoto que chamou minha atenção com um abraço saudoso. Assim que o soltaram, os dois homens se viraram para mim
— Pais, essa é Vitória, minha nova melhor amiga. Eu a encontrei, casualmente. — Henrique me apresenta puxando-me pela mão para que eu me aproximasse mais.
— Vitória... — O homem de cabelos de cor semelhantes aos meus se aproxima ao se desvencilhar do abraço coletivo e me segura pelos ombros. O brilho em seus olhos passa a sensação de que já nos conhecemos. Ele nada diz, apenas me fita com os olhos marejados. O peso familiar retorna novamente, dando a impressão de que vivi sob as nuvens minha vida toda, em um sonho terrível onde fingi estar tudo bem. Agora, o peso extra me trouxe de volta ao solo, redescobrindo a vida que deveria ter sido minha desde o início. O rosto da foto estampou-se nas células de meu cérebro. Minha mãe estava errada sobre uma coisa, sobre eu ser desconhecida. Toda dor da infância se apagou dando lugar a euforia da descoberta.
— Filha. — Ele me puxa para um abraço, mais forte do que havia dado no filho. Um abraço que esperei dezesseis anos para sentir. Alguém também procurava por mim.
Eu havia acabado de encontrar meu verdadeiro pai.



24 Comentários

  1. Olá, nossa, gostei muito do conto, bem intenso. Eu raramente acesso o Wattpad e acabo não descobrindo essas maravilhas. Obrigada por trazê-lo aqui pro blog. Bjs

    ResponderExcluir
  2. Oi, Juliana ><
    Gostei do conto e a capa está maravilhosa. E ela ser homofóbica, achei isso bem diferente pra uma protagonista.
    Abraços

    ResponderExcluir
  3. olha,tapa na cara dessa protagonista,amei esse desfecho...
    tenho ojeriza de gente homofóbica eque fica se baseando em Deus pra justificar seu preconceito...

    ResponderExcluir
  4. Oi.

    Adorei o conto! Faz muito tempo que não leio nada no Wattpad, antes eu lia muito por lá. Mas desde que fiquei sem celular, não tenho como ler muito. A autora tem outros contos no Wattpad?, se tiver, vou lá procurar.

    ResponderExcluir
  5. Olá! Eu gostei da sinopse e adoro ler contos, porém vou deixar pra ler no Wattpad. Obrigada pela dica!

    ResponderExcluir
  6. Olá.
    Não tenho costume em ler no Wattpad, mas vejo tantas indicações boas vindo de lá que às vezes sinto a necessidade de ler rs. Esse livro parece ótimo e sem contar que essa capa é linda demais! Adorei.

    Aliás, adorei seu blog também. É lindo! Já estou seguindo <3
    Beijos, * Blog PS Amo Leitura *

    ResponderExcluir
  7. Olá que conto lindo! Sou super fã do Wattpad, já encontrei livros maravilhosos por lá pena que muita gente não não conhece...Muito bom vc ter postado aqui para que as pessoas vejam o que estão perdendo....Bjs

    www.livrosemretalhos.com.br

    ResponderExcluir
  8. Olá!
    Nossa, eu adorei o conto, achei o tema intenso, mas tenho a maior dificuldade de acompanhar o Wattpad Sei que tem autoras maravilhosas por lá, mas essa coisa de ler um capítulo por semana eu sou muito desligada e esqueço de terminar as histórias.
    Porém se um dia colocar na Amazon certamente lerei tudinho.

    Espero voltar mais vezes!

    Beijos!

    Camila de Moraes - Blog Book Obsession.

    ResponderExcluir
  9. Não acredito que acabou assim! Preciso ler o resto com urgência! Já imaginava que ela teria algo do gênero para enfrentar de frente o próprio preconceito ridículo. A pior coisa que podemos fazer é querer julgar os outros sem nem ao menos conhecê-los.
    Bjs

    ResponderExcluir
  10. Sair sinopse intensa!!! Eu adoro o Wattpad, tem muita coisa por lá e já adicionei esse conto pra poder lê-lo com mais calma e reflexão. Eu tenho algumas coisas lá, mas não publicadas, fico um pouco receoso de publicar. Amei sua iniciativa de por o texto aqui para aqueles que não tem conta no wattpad. Beijos!

    ResponderExcluir
  11. Olá, tudo bem?
    Eu acho essa plataforma muito bacana mesmo, mas confesso que ainda não li nada de lá, isso porque não tenho paciência para ler textos digitais, sabe? E eu achei muito legal da sua parte divulgar aqui um conto, o mesmo parece ser bem bonito, por isso vou salvar aqui para tentar ler depois com mais tempo.

    Beijos :*

    ResponderExcluir
  12. Oie tudo bem?
    Que conto lindo e profundo! Achei bem diferente essa protagonista, nunca tinha visto até agora uma homofobica!
    Sabe não tenho costume de ler no Wattpad, mas depois dessa vou começar...
    Beijos

    ResponderExcluir
  13. Amo conto e amei esse!
    Maravilhoso!
    Adorei esse desfecho e a lição que essa Vitória levou.

    ResponderExcluir
  14. Oi, tudo bem?
    Achei bem interessante e intenso. Confesso que senti muita raiva da protagonista, não consigo entender pessoas intolerantes assim. Mas adorei a lição que ela levou no final.
    Se for mais desenvolvido, esse conto daria um livro bem legal.
    Beijos!

    ResponderExcluir
  15. cheguei na ultima linha assim: O QUE?!?!
    cade a continuação meu deus?! tô amando!
    e adorei o tema.. quem sabe assim as pessoas param de julgar os outros. vamo abrir a mente pessoal!!!! Deus é AMOR ❤️

    ResponderExcluir
  16. Oi Juliana.
    Eu estou tentando colocar as leituras que faço no Watttpad como algo mais rotineiro.
    Vou ler seu conto por lá porque a acho a plataforma melhor para esse tipo de leitura.
    Abraços e sucesso :)

    ResponderExcluir
  17. Olá!!! Parabéns pelo conto !!! Ótimo você compartilhar no blog !!!
    muito sucesso, bjoooooooooo

    ResponderExcluir
  18. Olá, tudo bem?
    Nossa que conto maravilhoso. Parabéns pela escrita.
    A história é bem elaborada e intensa. Achei o máximo o desfecho, é necessário deixar claro que homofobia é crime. Eu tenho conta no wattpad e vou adicionar lá, vai que surgem outros contos bons como esse.
    Beijos

    ResponderExcluir
  19. Olá, tudo bem? Que escrita mais fluida, adorei! Trabalhar um tema "pesado" com maestria é para poucos. Não gosto muito de usar wattpad, mas se houver outros contos posta aqui!
    Beijos,
    diariasleituras.blogspot.com

    ResponderExcluir
  20. Oie!!
    Que conto incrível!! Diferente :o
    Nunca tinha lido nada no estilo e confesso que esse final me deixou muito curiosa, quero mais!

    beijos
    Livros & Tal

    ResponderExcluir
  21. Olá, tudo bem.
    Muito interessante o conto. Um drama envolvente, gosto de histórias assim. Tenho conta no wattpad, mas entro pouco. vou até mudar isso. Sucesso.

    Beijos

    ResponderExcluir
  22. Olá!!

    Gostei muito do conto!! Ele está inteiro aqui? Ou no Whattpad ele continua? Eu não tenho o habito de ler nada lá! Gostei muito da sua escrita mesmo! Leve-o para a Amazon!!

    Bjus

    ResponderExcluir
  23. Gostei da sinopse do conto, fiquei curiosa para lê-lo,como não tenho muito tempo agora eu prefiro baixa-lo no watpad

    ResponderExcluir